terça-feira, 30 de outubro de 2012

Castro Mendes; II


Camões na Índia


Esteve nesta terra. Enojavam-no as mulheres,
pois só as de baixa casta aceitavam
vender-se aos brancos. Escrevia aos amigos
sobre as saudades que tinha dos bordéis de Lisboa.
E fazia poemas para o Vice Rei.

A grandeza não cabe em nenhuma época,
em nenhuma terra,
até mesmo em nenhum ser humano de carne e osso.

Mas só ela dura!

Luís Filipe Castro Mendes, Lendas da Índia, D. Quixote, 2011 p. 61

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Castro Mendes

Blogue do Escritor:         Timtim no Tibet

[poema aí assinado por Alcipe, de 2 de Outubro]

Conceito de História
E às vezes a noite dura todo o dia
e às vezes o leite fica à porta:
não importa que cresça a manhã fria,
não importa que a casa esteja morta.

Demorou já demais nossa estadia
e nós com os sapatos por atar.
Enrolados nos panos, no que havia,
temos o corpo pronto para andar.

Não importa que cresça a morte fria
nem que o leite coalhe junto à porta.
Alguém dará sentido a este dia,
seu brilho irá durar numa mão morta.

A história de uma vida pouco é mais
do que a História que lemos nos jornais.
 
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

«Os Lusíadas» (Dona Cleo, a menina que os leu numa tarde)

[Recorte de Agosto, 28]

Era "uma tarde de Inverno, chuvosa, fria". A jovem Cleonice Berardinelli recostou-se na poltrona e ajeitou a almofada. "Li Os Lusíadas numa tarde de êxtase. Quando chegou no Canto VI, na tempestade, me senti embalada nas ondas, mas era a chuva lá fora." Em São Paulo, em 1938.

Os Lusíadas numa tarde? "Incrível, não é? Li depressa. Estava lendo como quem devora uma história. Claro que comecei a voltar atrás, a parar." Nem sabe quantas vezes releu, ao longo do século XX. "Foi amor à primeira vista e definitivo." Depois desdobrado, dos cancioneiros a Saramago, fez dela a maior lusitanista do Brasil.

E esta terça-feira, dia em que completa 96 anos, [...]
Alexandra Lucas Coelho, Público, 28 - 08 - 2012, p.26

Entrevista-Reportagem completa: AQUI

[T. lembra-se de uma Cena assim, talvez antes de 2000, no Velho Paraíso. Numa segunda de manhã, pela escada, uma Qd.a, claro, disse-lhe que ocupara a tarde «morrinhenta» de domingo a ler a Obra Prima de «fio a pavio». Resistira, mas não vinha «em muito bom Estado», de facto. Embora não «derrubada», longe do «êxtase» da Menina Cleo]
[Em 93-94, no D. P. V., um pai, esforçado profissional da C. C., queixara-se, ao DT, de que «o p. de P., veja lá, agora até quer que o meu R. leia um livro enorme e incompreensível!». Esforçado era, o Menino, de facto.]

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Saramago: «Terra riquíssima em pobres»

«Era quase noite quando a Rua do Século ficou limpa de pobres»

A expressão é de O ano da morte de Ricardo Reis - lida no OBJETO COMPÓSITO do Canal Q - número especial do «Clube da Palavra» que se pode  ver no YT:


Com Pilar del Río, Noiserv, Miguel Gonçalves Mendes e locução de Luís Gouveia Monteiro.

E desenho digital de António Jorge Gonçalves e Diana Mascarenhas.

38º episódio da terceira temporada do Clube da Palavra (Canal Q).

sábado, 13 de outubro de 2012

MAPA DA MANHÃ + A menina que queria estudar

08:40
Mercado de Arroios.
Dona R., a «hortaliceira», boa senhora, até;  do tão amado Povo Gasparino:
«[...] pois, os P. só trabalham 6 meses...»
[T.: «Fuzilá-los, Já!»]

09:40
Pingo Doce da Av. de Paris [pois o da C. M. ainda não abrira]
Semi-andrajoso, de nacionalidade indefinida, com todos os seus «não-haveres» numa mesma mala, há anos que tenta vender Lenços de Papel, à porta. Como variante, foi atrás de T. até ao carro. Depois de verificar que havia moeda de 50 cêntimos, atirou uma embalagem para dentro do porta-bagagens e lá regressou ,  empurrando o das compras.
[Impávido, o Sol continuou a brilhar.] (J. G. F....)
 
Ao balcão do talho, para a Plateia, de 3.ª I. Outro, «Castiço»:
«O P. da C. é que Endireitava Isto!»
[mau. mau Maria]
 
11:15:
Avenida G. R. Talho. Leitura, de pé, enquanto o sr. Carlos «descasca» as COD.s
 
Paquistanesa,  «a menina que queria estudar para ser médica», luta contra a morte - obrigatório direito Taliban para quem ouse...
[que Mundo este]
 
11:45
Lidl.
F. S., ainda Jovem (muito dedicado) M. do Palácio 1213, Verdadeiro Criador, vem a sair, «carregado». Sempre SIMP, vai a correr ao carro buscar um convite-programa dos «Ateliês de Lisboa», convidando o Bisonho, Caseiro T.....
 
Well
 
Chega. T. não alcança Cesário, claro.
 
 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Ao colo da Bandeira

Fotografia © Nuno Pinto Fernandes / Global Imagens - reproduzida do Diário de Notícias de hoje - DAQUI

«Por que não veio a  Malta, pá»? (parece pensar)

No  último 5 de Outubro, que não houve, afinal -
M.,«atual AA» [de ADV, pois, pois] fugazmente aparecera no Ecrã; despercebida não passou ao Fotógrafo que  a «petrificou»;
a Bandeira faz  como que um Solidário Reduto, Cansado, com a Fotografada 
- posição inédita que talvez Alguém transforme em I. Temporário
- um «anti-Delacroix»?
- quem sabe?

[«Está inteira e boa, a Bandeira»
- «Está inteira e boa, a cigarreira / Ele é que já não serve»
- «O menino da sua mãe», Fernando Pessoa]

[quanto ao Futuro, se não for Já, é Sempre Hoje]


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Duas horas: ... - Tolentino de Mendonça

«É sempre uma sede de liberdade que nos acorda para o gratuito. E não uma liberdade disto e daquilo. Eu diria: é antes, uma pura liberdade de ser, de sentir-se vivo; uma expansão da alma, náo condicionada pela avareza das convenções; uma urgência não de dons mas de dom. Hoje, por exemplo, uma amiga procurou-me para que eu lhe indicasse um voluntariado. Ela nem tem muito tempo, dedicada a um emprego absorvente e complexo, com os filhos numa idade em que dependem muito dela. «Talvez só possa dar duas horas de quinze em quinze dias» - disse-me. E eu retorqui-lhe, sorrindo:
«Duas horas podem ser uma imensidão.»
 
José Tolentino Mendonça. Nenhum caminho será longo - para uma Teologia da Amizade [livro lançado a 8 de Outubro]

domingo, 7 de outubro de 2012

«Esta manhã» - M. do R. Pedreira

Esta manhã o sol atravessou de repente
para o outro lado da rua - são tão sombrias

as casas quando delas se perde o nome de
alguém, tão escuros os corações dos que
ficam lá dentro para habitar a dor.

Maria do Rosário Pedreira, Nenhum nome depois [1.ª ed:2004]; transcrito da p. 209 de Poesia reunida, 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mudam-se os Tempos... - Carlos Nogueira

Imagem obtida no endereço eletrónico do Público

O Motivo - e o soneto - (Maneirista)  de Camões já deve ter dado «várias vezes a volta ao Mundo das Revisitações», pelas várias Artes
- aqui, a do artista plástico Carlos Nogueira, agora na «Antológica» (40 anos de carreira), no CAM - até Janeiro
 
Da entrevista [«Faço sempre uma única obra» - AQUI] que concedeu ao «Ípsilon», de 21 de Setembro, T. Recorta um curto excerto:
 
 
[...] Lia e continua a ler muita poesia, e  grande parte da sua biblioteca está dedicada a esta área. A biblioteca, a casa: quem conhece a casa de Oeiras percebe que é uma continuação lógica do seu trabalho.
E a biblioteca tem um lugar especial dentro dessa casa, tanto que o artista passa muito tempo a ordená-la, a visitá-la, a usá-la. “Uma coisa que sempre tive desde miúdo é alguma propriedade de linguagem. Sou minimamente dono da palavra. E, como dono, gosto de a usar. Não me permito dizer que sou poeta ou escritor, mas gosto da palavra, de jogar com ela, de introduzir até o erro no sistema. Até pelos títulos das minhas obras, onde há conjugações que parecem em falta, mas não estão.”
 
[sublinhados acescentados]