sábado, 16 de novembro de 2013

VAN GOGH («A tesoura de») - Nuno Júdice

A TESOURA DE VAN GOGH
(variante)
 
[incompleto; recorte inicial]

 
No quarto em que fecharam o van gogh não havia
nem tela nem tintas para ele pintar a sua própria
orelha. Van gogh estava sentado em frente de um
espelho, olhava para a orelha e não sabia o que fazer
com ela: se tivesse tela e tintas, e lhe tivessem
dado um pincel, teria pintado a sua orelha sentada
numa cadeira de pau, com as costas pintadas de azul
e a frente de amarelo. Mas sem ter nada disso,
van gogh olhava para o espelho e a orelha como
que crescia na sua cabeça, ocupava o espelho inteiro,
tapava-lhe o rosto e impedia-o de ver o que quer que
fosse à sua volta. Então, van gogh começou
a procurar soluções para o problema
que a orelha colocava: [...]
 
Nuno Júdice, Navegação de acaso, D. Quixote, 2013 (nov.), pp. 70-71