segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Lusíada - Manuel Alegre

LUSÍADA

Desterro desconcerto desatino
vai-se a vida em palavras transmudada
vai-se a vida e cantar é um destino
página a página de pena e espada.

Conjura desengano má fortuna
oxalá só vocábulos mas não
a escrita não se cinde a vida é una
cantar é sem perdão é sem perdão.

Quebrar a regra nenhum verso é livre
outra é a norma e a frase nunca dita
lá onde de dizer-se é que se vive.

Cortando vão as naus a curta vida
transforma-se o que escreve em sua escrita
Lusíada é a palavra prometida.


 Manuel Alegre, Com que pena Vinte poemas para Camões, D. Quixote, 1992, p. 43